domingo, 15 de julho de 2012

aulão para as crianças - 04/08/2012


A música na roda de capoeira.


Bateria de capoeira

A música funciona como a alma da roda de Capoeira.
 Ela influencia diretamente o
jogo, contagia a platéia e alimenta o jogador.
As músicas devem ser cantadas com sentimento. Suas letras devem estar relacionadas
com o jogo, com o jogador, ou com a roda de alguma forma.
Nas cantigas de Capoeira reside enorme riqueza de conteúdo e detalhes sóciohistóricos e culturais, retratando a vida brasileira de outrora e do presente. Elas são  “poesias” e “cancões” narrando e recriando lendas, mitos, e e histórias; são
poesias e canções melodiando o entendimento universal da musica: são poesias e
canções discorrendo sobre os usos e costumes populares; são poesias e canções
encarnando nos trejeitos dos contadores, a linguagem e o simbólico populares; contam
as vidas de grandes mestres como Zumbi, Besouro, Manduca da Praia, Bimba,
Pastinha, Waldemar da Paixão e outros; evocam lugares e santos protetores; fazem
escárnios e desafios; enaltecem feitos e habilidades de capoeiristas do passado e do
presente; narram momentos do jogo, de uma ocorrência, uma advertência ou uma
vontade do cantador.

- O CANTO NA CAPOEIRA ANGOLA
Na roda de Capoeira Angola, o cantador geralmente é aquele que está com o Gunga,
salvo quando um capoeirista agachado no pé do berimbau deseja cantar uma ladainha
neste caso, ao terminar, deverá devolver a vez para aquele que
estiver com o Gunga.
- As músicas na Capoeira Angola são classificadas da seguinte forma:
LADAINHA – São músicas que iniciam a roda. São, geralmente mais longas que os
corridos e quadras e falam de sentimento do capoeirista, contam historias sobre
personagens importantes ou do cotidiano, ou passam mensagens para os jogadores e
para o público.
CORRIDOS – São músicas curtas. Geralmente, nascem de improvisos, e falam
principalmente do jogo em si e o refrão constante e sua identidade. O solista canta
alternadamente com o coro.
CHULA – É uma espécie de corrido, alternado com as estrofes da ladainha ou no final
dela.
LOUVAÇÕES – Louvam a Deus, o mestre, a Capoeira, uma cidade.
O IÉ – É um recurso utilizado por alguns capoeiristas para chamar a atenção para o
começo da ladainha.

(OBS: 1- Ladainha
            2-louvação
            3-corrido - aonde se começa o jogo
no cantos Ladainha e Louvação não se joga.) 

- O CANTO DA CAPOEIRA REGIONAL
Na Capoeira Regional, as quadras e corridos são predominantes como formas de
músicas.
QUADRAS – São músicas especificas da Capoeira Regional, parecem-se com as
ladainhas, mas são menores e os versas são feitos em quadras.
Mestre Bimba cantava várias quadras durante a roda e os alunos jogavam
normalmente sem interromperem o jogo.

domingo, 18 de dezembro de 2011

Puxada de rede.

A Puxada de Rede, era  a atividade pesqueira dos negros recém-libertos, que encontraram na pesca do “xaréu” uma forma de sobreviverem, seja no comércio, seja para seu próprio sustento. Nos meses decorrentes entre outubro e abril, esses peixes procuravam as águas quentes do litoral nordestino afim de procriarem. Então era a época certa para lançarem a rede ao mar.

Era uma atividade muito laboriosa. Exigia-se um esforço tremendo e um número muito grande de homens para a tarefa. Os pescadores iam para o mar de madrugada ou às vezes até à noite,  para lançar a enorme rede, para só então de manhã puxarem. A puxada da rede era acompanhada de cânticos na maioria em ritmo triste que representavam o labor e a dificuldade da vida daqueles que tiram o seu sustento do mar. 

Além dos cânticos, os atabaques e as batidas sincronizadas dos pés davam o ritmo para que os homens não desanimassem e continuassem a puxar a enorme rede, o que paradoxalmente dava um ar de ritual e beleza àquela atividade. Quando enfim terminavam de puxar a rede, eram entoados cânticos em agradecimento à pescaria e o peixe era partilhado entre os pescadores e começava o festejo em comemoração.

A Lenda

Alguns contam que o ritual da Puxada de Rede começou com uma lenda.
Um pescador saiu à noite para pescar com seus companheiros, como de costume e apesar da advertência de sua mulher que o repreendeu acerca dos perigos de se entrar em alto mar à noite, se embrenhou na imensa escuridão do mar negro da noite, levando consigo apenas um a imagem de Nossa Senhora dos Navegantes. Sua esposa pressentindo algo ruim, foi para a beira da praia esperar o regresso do marido. Quando esta menos esperava se surpreendeu com a visão dos pescadores voltando do mar muito antes do horário previsto. Todos os pescadores voltaram com exceção do seu marido que por descuido havia caído no mar e como estava escuro nada puderam fazer. A recém viúva cai em prantos. De manhã os pescadores ao puxarem a rede percebem que estava muito pesada para uma pescaria ruim e ao terminarem de puxar a rede vêem o corpo do companheiro junto aos poucos peixes que pescaram. Os companheiros então carregam o corpo do pescador nos ombros em procissão, pois não tem dinheiro o suficiente para pagar uma urna e fazer um enterro digno.

Mestre Boca Rica

Manoel Silva, aluno de Mestre Pastinha na década de 60, Mestre Boca Rica, nasceu em 26 de novembro de 1938, em Maragogipe, Bahia, é um dos grandes mestres e uma lenda dentro da capoeira.

O apelido foi dado pelo Mestre Pastinha, tendo em vista o mesmo usar dentes de ouro em toda parte superior da boca, mestre que tinha enorme preocupação com a bateria da capoeira e exigia de seus alunos esmero para tocar.

Era um Mestre que tentava compreender as aspirações e aflições das pessoas, procurando sempre expor seu conhecimento sem confrontar aqueles que divergem de sua opinião.
Mestre cantador, fazendo todos que o ouviam cantar emocionar-se, tendo por testemunho de diversas pessoas chegarem a chorar com suas Ladainhas bem cantadas, tem a capoeira como marca registrada na sua vida, viajando pelo mundo todo para falar e jogar capoeira.

Mestre Pastinha

Vicente Ferreira Pastinha nasceu em 1889, filho do espanhol José Señor Pastinha e de Dona Maria Eugênia Ferreira. Seu pai era um comerciante, dono de um pequeno armazém no centro histórico de Salvador e sua mãe, com a qual ele teve pouco contato, era uma negra natural de Santo Amaro da Purificação e que vivia de vender acarajé e de lavar roupa para famílias mais abastadas da capital baiana. 

Menino ainda, Mestre Pastinha conheceu a arte da capoeira com apenas 8 anos de idade, quando um africano que chamava carinhosamente de Tio Benedito, ao ver o menino pequeno e magrelo apanhar de um garoto mais velho, resolveu ensinar-lhe a arte da Capoeira. Durante três anos, Pastinha passou tardes inteiras num velho sobrado da Rua do Tijolo, em Salvador, treinando golpes como meia-lua, rasteira, rabo-de-arraia e outros. Ali aprendeu a jogar com a vida e a ser um vencedor.

Viveu uma infância feliz, porém modesta. Durante as manhãs freqüentava aulas no Liceu de Artes e Ofício, onde também aprendeu pintura. À tarde, empinava pipa e jogava Capoeira. Aos treze anos era o moleque mais respeitado e temido do bairro. Mais tarde, foi matriculado na Escola de Aprendizes Marinheiros por seu pai, que não concordava muito com a vadiagem do moleque. Conheceu os segredos do mar e ensinou aos colegas as manhas da Capoeira.
Aos 21 anos voltou para o centro histórico, deixando a Marinha para se dedicar à pintura e exercer o ofício de pintor profissional. Suas horas de folga eram dedicadas à prática da Capoeira, cujos treinos eram feitos às escondidas, pois no início do século esta luta era crime previsto no Código Penal da República.

Em fevereiro de 1941, fundou o Centro Esportivo de Capoeira Angola, no casarão n.º 19 do Largo do Pelourinho. Esta foi sua primeira academia-escola de Capoeira. Disciplina e organização eram regras básicas na escola de Mestre Pastinha e seus alunos sempre usavam calças pretas e camisas amarelas, cores do Ypiranga Futebol Clube, time do coração de Mestre Pastinha.
Mestre Pastinha viajou boa parte do mundo levando a Capoeira para representar o Brasil em vários festivais de arte negra. Ele usava todos os seus talentos para valorizar a arte da Capoeira. Fazia versos e chegou a escrever um livro, Capoeira Angola, publicado em 1964, pela Gráfica Loreto. Mestre Pastinha trabalhou muito em prol da Capoeira, divulgou a arte o quanto lhe foi possível e foi reconhecido por muitos famosos que se maravilharam com suas exibições.

Aos 84 anos e muito debilitado fisicamente, deixou a antiga sede da Academia para morar num quartinho velho do Pelourinho, com sua segunda esposa, Dona Maria Romélia e a única renda financeira que tinha era a das vendas dos acarajés que sua esposa vendia. No dia 12 de abril de 1981, Pastinha participou do último jogo de sua vida. Desta vez, com a própria morte. Ele, que tantas vezes jogou com a vida, acabou derrotado pela doença e pela miséria. Morreu aos 92 anos, cego e paralítico, no abrigo D. Pedro II, em Salvador.

Morreu Mestre Pastinha numa sexta-feira, 13 de Novembro de 1981, vítima de uma parada cardíaca que, no estado frágil em que se encontrava, foi fatal.